segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Amores

Eles sobem a rua de mãos dadas.
Ele a puxa para perto de si. Ela curte o abraço por
alguns segundos até que pergunta.


Há quanto tempo a gente não se via?

Você já percebeu que já é a segunda vez
que você me pergunta isso?

E não pode?

Não, sei... Acho que já fazem uns bons
dez anos.

Dez? Só isso? Mais...

Pode ser... é tão fácil desaparecer nessa
cidade. É tanta gente que você pode
passar a vida inteira sem encontrar uma
pessoa que mora ali do seu lado.
Um amigo meu teve uma namorada na
faculdade, estudaram a mesma coisa,
trabalham até hoje mais ou menos na mesma
área, mas nunca mais se cruzaram. Se
quiserem, um pode encontrar o outro a
hora que for. É só procurar um pouco,
mas pra quê?

As vezes isso me dá uma sensação de
conforto.

As vezes é mais fácil deixar a cidade
engulir a gente.

Eu penso nisso sempre, são os seis graus
de separação. Vivemos tão longe e ao
mesmo tempo tão perto um dos outros.

E nada como como São Paulo para te fazer
sentir solitário no meio de vinte milhões
de pessoas.

Pera aí. Eu te vi uma vez no cinema.

Cinema?

Foi, mas, essa não conta, porque a gente
não se falou.

Como não se falou? Você me viu e não veio
falar comigo?

Não. Pra quê? Eu tava com o meu ex.

Ele concorda com a cabeça. Ela levanta os braços pro
céu.


Que deus o tenha.

Ele morreu?

Não, era ciumento.

Ele ri.

Mas para mim é como se tivesse morrido.

Tá rindo de que?

É assim que você vai fazer quando eu me mudar?

Assim como?

Vai me matar, me riscar da sua memória.

Outra vez? Por que a gente já tá
namorando?

Ele ri e abaixa os olhos.

O que foi?

Não, nada.

Sei... vai fala. Eu tava brincando.

Não tem nada para falar.

Vai fala.

É que você fala assim com tanta
desenvoltura.

Do que.

Do seu ex-marido.

E qual o problema?

Queria que fosse assim tão fácil pra mim
também.

Por que?

Não sei. Vamos indo.

Espera aí.

Deixa pra lá, vamos indo.

Você não vai fugir dessa tão fácil.

Os dois se olham. Ele a abraça com uma certa
sofreguidão. Ela retribui carinhosamente.


Porque a gente se separou?

Porque eu conheci a minha ex-mulher.

Coisas que acontecem.

Coisas que não deviam acontecer.

E ela quis sair pelo mundo com você.
Explorar petróleo no Golfo do México.

E eu não quis.

As vezes a gente toma decisões
precipitadas.

Mas você foi feliz com ela.

Por uns cinco minutos.

Não fala assim. Eu tenho certeza que
vocês tiveram bons momentos. Só que não
deu certo. Comigo não foi diferente.

Eu...

Fala..

As vezes acho que nunca mais vou
conseguir voltar a amar.

Não fala assim, você sabe que isso não é
verdade.

Por que eu estou falando nisso agora? Com
você?

Porque a gente um dia se amou.

Mas o que dá errado uma vez. Dá errado
duas vezes.

Você acredita mesmo nisso.

É a minha teoria.

Teorias podem ser derrubadas.

O que dá errado uma vez. Dá errado duas
vezes. Está comprovado.

Por quem?

Ele ri.

Pelo jeito essa é só mais uma teoria do sr.
engenheiro.

Você tentaria de novo?

Eu acabei de correr atrás de você por 13
andares. O que você acha?

Mas amanhã eu vou embora.

Pra outro país. Nada na vida é perfeito.

Nem o amor.

Nem o amor.

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